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quinta-feira, 22 de setembro de 2011
Mais uma oportunidade perdida
A Europa celebra, uma vez mais, uma efeméride da
maior importância e que, nos dias de hoje, não admite nem santa ignorância nem
convicto desprezo.
A “Semana Europeia da Mobilidade” enquadra-se numa
estratégia europeia e civilizacional que visa, até 2020, e ao mesmo tempo,
reduzir em 20% a emissão de gases com efeito de estufa, aumentar a eficiência
energética em iguais 20% e estabelecer um consumo de renováveis que represente
20% do total da energia consumida na UE.
Num contexto de grave crise económica, em que se pede
uma criteriosa utilização dos recursos, torna-se ainda mais premente um alerta
claro e desempoeirado por parte das autoridades públicas, tendente a incentivar
a utilização de meios de transporte amigos do ambiente e da carteira.
No nosso concelho tal recomendação reveste-se de uma
ainda maior relevância. Como bracarenses, assistimos, ao longo dos anos, a um
incremento da área pedonal na cidade, mas também a uma brusca e violenta desertificação
do centro histórico. A este título relembre-se o recente estudo publicitado
pela imprensa local, que dá conta do efeito dissuasor que a ausência de
estacionamento provoca, ao mesmo tempo, nos potenciais moradores e
consumidores.
Se a isto aliarmos um serviço público de transportes
cronicamente deficitário e perigosamente próximo do desastre financeiro, temos
a receita para o incentivo supremo à entusiástica celebração desta semana
europeia da mobilidade.
Ora, estranhamente, a CM de Braga faz o exacto
oposto. Tal como em anos passados (exalte-se a coerência), o desdém, ou o puro
desinteresse, condenaram à anonimidade um evento que merecia outro relevo.
Esta postura não seria tão grave caso, no nosso
concelho, a prioridade da mobilidade urbana fosse assumida e praticada com
relativa assiduidade, o que, malogradamente, não acontece.
É que não basta prometer, ano após ano, um sem número
de iniciativas que ou nunca se concretizam, ou só o próximo executivo pode
cumprir, nem já ninguém se deixa enganar pelos estudos de mobilidade “para
inglês ver”. Agir é a palavra de ordem e não podemos admitir a contínua
desresponsabilização dos líderes políticos da autarquia, que fazem da oratória
a arte do perpétuo adiamento.
Em Braga há já excelentes exemplos de movimentos da
sociedade civil que se mobilizam por esta causa. O caso dos “Encontros com pedal”, que angariam cada vez mais adeptos para passeios culturais pela cidade,
promovendo de forma simples e eficaz o uso da bicicleta, é só um deles. O
problema tem sido a falta de acompanhamento por parte do poder político.
Também não podemos esquecer que se aproxima o ano da
comemoração da Capital Europeia da Juventude. Damos por nós a perguntar que
melhor altura poderia existir para atrair novos públicos para os transportes
alternativos e para instituir uma verdadeira “educação para a mobilidade
urbana”?
Impunha-se, pois, uma participação juvenil
referencial neste que é um tema que tanto lhes (nos) diz. Ao que parece, a
juventude bracarense terá de ficar novamente à espera de um virtual concurso de
ideias para dar o seu virtuoso contributo.
Da parte da Coligação “Juntos por Braga” e da JSD de
Braga a consciência está tranquila. Já por várias vezes reclamamos medidas
muito concretas, desde iniciativas simples e de reduzido custo como a
instalação de locais de parqueamento para bicicletas, até ao gizar de um
verdadeiro plano de mobilidade para o concelho, integrando todas as valências
ao nosso dispor, levando em linha de conta os problemas particulares de quem
sofre de impedimentos físicos que reduzam a mobilidade.
Infelizmente, a tudo isto Mesquita Machado e o
restante executivo socialista respondem com a arrogância que se lhes conhece,
proclamando a perfeição da sua obra e a sabedoria plena e incontestável de um
qualquer déspota setecentista.
Também por isto este novo lapso não é de estranhar.
Olhando para o concelho facilmente se descortina o alheamento entre as
políticas camarárias e o interesse público, logo, uma semana da mobilidade em
Braga serviria apenas para sublinhar o óbvio, deixando, mais uma vez, a nu, as
insuficiências que os bracarenses diagnosticam no dia-a-dia.
O executivo socialista, tal como um mau aluno de
matemática, falhou as bases, limitando-se a lançar umas espasmódicas equações
de mobilidade urbana à sua sorte, às quais acoplou um sem número de promessas
desgarradas.
Aos bracarenses legou o papel de sorridentes
pagadores de uma estratégia que não existe, mas que contínua a sair-lhes muito
caro. Continuamos com taxas máximas, mas com serviços mínimos.
Nesta, como em tantas outras matérias, o lema
político do PS parece ser decalcado de um famoso comediante americano:
“construir um melhor amanhã... amanhã”.
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